São Paulo, 18 de Julho de 2015


Recursos hídricos e saneamento básico: Falta decisão política
 
Não há mais espaço para planejar e cuidar isoladamente de alguns elementos fundamentais que sustentam o ser humano no planeta. Só agora começamos a despertar para o fato de que fazem parte do mesmo pacote da nossa sobrevivência a água, a produção de alimentos, de energia, as indústrias, o meio ambiente, o tratamento dos esgotos.

No caso brasileiro, devemos festejar um bem-vindo princípio de conscientização para a necessidade de utilizarmos amplamente as tecnologias existentes e já usadas em muitos países, além de uma boa política que englobe reuso da água, dessalinização da água do mar, reaproveitamento dos efluentes domésticos e até providências de menor efeito, mas também importantes, como a coleta da água das chuvas.

Não é mais segredo para ninguém os motivos que nos empurraram para a atual crise hídrica que estamos vivendo. Não adianta estarmos no topo da lista das nações mais bem servidas de água doce, se não conseguirmos vencer problemas crônicos com a adoção de um planejamento integrado que englobe as três esferas da administração pública (municipal, estadual e federal) e a iniciativa privada.

As estruturas dedicadas ao fornecimento de água com qualidade e esgotamento sanitário também precisam melhorar seus métodos de gestão, buscando maior eficiência, especialmente na distribuição da água. Evitando assim, os desperdícios.

O Brasil está se preparando para receber em pouco menos de três anos, em abril de 2018, o oitavo Fórum Mundial da Água, organizado pelo Conselho Mundial que reúne 70 países e organiza esses encontros a cada três anos.

Esses assuntos — reaproveitamento de efluentes domésticos, melhor aproveitamento da água, menos desperdício, ampliação da utilização das tecnologias, o meio ambiente em geral etc. — não são uma preocupação exclusiva do Brasil. Cada um desses fóruns tem recebido a presença de dezenas de milhares de técnicos e integrantes de um sem número de governos. O último deles, realizado este ano, em abril, na distante Coreia do Sul, registrou uma participação superior a 40 mil pessoas e a presença de nove chefes de Estado.

Muitos dos debates e palestras lembravam as dificuldades que os brasileiros enfrentam nessa área. Foram discutidos 16 pontos englobando tudo o que diz respeito a água, incluindo seus aspectos culturais e sociais.

Na área cultural, sempre era lembrada a dificuldade das populações de muitos países de aceitar o reaproveitamento da água, o que os técnicos chamam de reuso até dos efluentes domésticos. Há alguns meses, o fundador da milionária e poderosa Microsoft, Bill Gates, apareceu no noticiário internacional anunciando os resultados do investimento feito pela fundação que dirige para aproveitamento de água potável a partir de esgoto. No anúncio, ele aparece tomando um copo dessa água, para provar que ela é tão boa quanto qualquer outra água limpa.

Os aspectos sociais dizem respeito à importância de haver água potável para todos os cidadãos e cidadãs em qualquer parte do mundo, a tão almejada universalização dos serviços de saneamento, que acontece apenas em um número reduzido de países.

Na América do Sul, excetuando o Chile, onde a população tem água limpa em suas torneiras e os esgotos são tratados, todos os países padecem das mesmas “enfermidades” que enfrentamos aqui: pouca utilização das modernas tecnologias, enorme desrespeito ao meio ambiente, desperdício de água potável, excesso de instituições definindo os destinos do setor, ausência de uma política única e integradora para essa área etc.

As providências para a construção de um bom sistema já são conhecidas; por isso muitos especialistas em água e tratamento de esgoto abraçaram a ideia de que não há mais novidades a serem discutidas.

É preciso apenas decisão política dos governos para implantar o que já existe.
Autor: Newton de Lima Azevedo é governador no Conselho Mundial da Água e conselheiro da Abdib

04/11/2014 - Propostas para a infraestrutura
05/09/2014 - Uma agenda de mudanças para a infraestrutura
27/11/2013 - Finalmente, chega o ano das concessões
16/10/2013 - Infraestrutura: o risco do investidor e o papel do Estado
07/08/2013 - Como ofertar mais e melhores serviços de infraestrutura?
 
 Índice de Opiniões    Enviar por e-mail    Imprimir    Página inicial
Copyright © 2001-2024 Abdib. Todos direitos reservados.ClickW