A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e as confederações nacionais da Indústria (CNI), do Transporte (CNT) e da Saúde (CNS) lançaram ontem uma carta à nação defendendo diálogo em busca de uma correção
de rumos que tire o país de uma "crise ética, política e econômica".
"A história do Brasil julgará todos aqueles que neste momento se opuserem a contribuir com a não ocorrência
do caos completo", disse o presidente da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coelho. "Julgará todos aqueles que
não possam contribuir para que o Brasil não tenha segurança jurídica e um ambiente de retomada do
crescimento", acrescentou.
A carta diz que "a corrupção não pode seguir como um empecilho para o desenvolvimento do país". Mas
evita falar a favor ou contra um impeachment da presidente Dilma Rousseff. "Não queremos ser 'longa
manus' do governo nem auxiliar da oposição. É possível ter propostas para o país independentemente disso",
disse Coelho.
Segundo o texto, é preciso que "as forças políticas, de diversos matizes, trabalhem para a correção de rumos
da nação". As entidades defendem mudanças estruturais como medidas para corte de gastos governamentais
e segurança jurídica.
"Independentemente de posições partidárias, a nação não pode parar nem ter sua população e seu setor
produtivo penalizados por disputas ou por dificuldades de condução de um processo político que recoloque o
país no caminho do crescimento", diz a carta.
O texto acrescenta que a tarefa para um diálogo e uma retomada do crescimento se inicia pelo Executivo,
mas exige envolvimento do Congresso, Judiciário e de toda a sociedade. Também defende a necessidade de
fortalecer os órgãos de investigação e o Judiciário para que, nos casos de corrupção, inocentes sejam
absolvidos e culpados condenados.
A carta pede medidas para melhorar o ambiente de negócios do país e evitar o crescimento do desemprego ou
o prolongamento da recessão. Também defende a desburocratização do país, para garantir um ambiente
melhor de negócios.
Pede ainda investimentos em infraestrutura, em parceria com a iniciativa privada nacional e estrangeira, a
redução do tamanho do Estado e a reforma tributária para eliminar "fontes de cumulatividade e garantir
direitos dos contribuintes".
O texto também defende a redução de gastos públicos pelo enxugamento da máquina administrativa, a
sustentabilidade de investimentos em saúde e educação. "Esperamos ter a sensibilidade dos políticos eleitos
para a implementação de uma agenda que abra caminhos para a superação das crises e para a redução da
confiança dos brasileiros", conclui.
As entidades também anunciaram a criação de um fórum permanente para apresentar propostas para "a
construção de um Brasil democrático e próspero".
Ao comentar o lançamento da carta, o presidente da OAB destacou que as entidades se opõe a "qualquer tipo
de intervenção militar" no Brasil. "Qualquer saída para o país tem que seguir os marcos da Constituição. Não
temos saudade da voz única do autoritarismo, da ditadura", afirmou.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, disse que a população passa
por um "pessimismo generalizado" por não saber quando o Brasil sairá da crise e defendeu propostas que
possam ir além das pautas corporativas de cada entidade.
Ontem, Dilma Rousseff não conseguiu levar ao Palácio do Planalto os 20 representantes do PIB nacional
convidados para uma reunião formalmente convocada para discutir sobre a visita oficial da chanceler Angela
Merkel e os acordos internacionais que serão firmados entre Brasil e Alemanha. Apenas 12 compareceram,
segundo lista de presentes divulgada pela Secretaria de Imprensa da Presidência da República.
Participaram do encontro Benjamin Steinbruch, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Carlos Fadigas,
da Braskem, Carlos Mariani, da PIN Petroquímica, Gunnar Nebelung e Waldemir Loto, da Amaggi, Ingo
Plöger, do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal), Marco Stefanini, da Stefanini, Paulo Tigre, da
DHB Indústria e Comércio LTDA, Pedro Faria, da BRF, Pedro Wongtschowski, da Ultrapar, Ralph Lima
Terra, da Abdib e Rubens Ometto, da Cosan. Não foram a Brasília Jorge Gerdau, Murilo Ferreira, da Vale,
Ricardo Marino, do Itaú, e Frederico Curado, da Embraer, que haviam sido convidados.
Acompanharam a reunião os ministros Aloizio Mercadante, da Casa Civil, Armando Monteiro Neto, do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Joaquim Levy, da Fazenda, Kátia Abreu, da
Agricultura, e Nelson Barbosa, do Planejamento, e Mauro Vieira, das Relações Exteriores.