O concorrido mercado de exportação de serviços de engenharia, onde atuam 250 empresas, saltou de
US$ 167,2 bilhões, em 2004, para US$ 543,8 bilhões, em 2013. Décimo maior exportador, com US$ 12,98
bilhões em 2013, o Brasil ainda precisa vencer obstáculos, como a burocracia na aprovação de contratos
e liberação de financiamento, para se tornar mais competitivo, segundo empresários, economistas e
políticos reunidos no seminário "Uma agenda para dinamizar exportação de serviços no Brasil",
promovido pelo Valor, na segunda-feira, em São Paulo.
Para eles, o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) às
exportações de engenharia deve não só ser mantido, como ampliado. Eles defenderam também a
necessidade de despolitizar o debate sobre o apoio financeiro do banco de fomento, alvo de críticas
depois da divulgação detalhada de suas operações no exterior.
As exportações brasileiras de serviços de engenharia atingiram US$ 12,98 bilhões em 2013 2,4% do total
mundial , ante US$ 11,9 bilhões em 2012. O maior mercado é a América Latina, com US$ 9,78 bilhões
em 2013, o equivalente a 17,3% das operações, seguido pela África, com US$ 2,95 bilhões (4,7%). No
mercado mundial, a líder é a Espanha, que registrou US$ 79,9 bilhões em 2013, correspondentes a 14,7%
do total. A China vem em segundo lugar, com US$ 79,9 bilhões (14,5%), seguida pelos Estados Unidos,
com US$ 71 bilhões (13%).
A atividade não se limita à execução de uma obra em outro país. A exportação de serviços de engenharia
promove também a exportação de toda uma cadeia de produtos, envolvendo desde grandes até
pequenos fornecedores. São bens consumidos tanto na fase de execução como a partir da conclusão da
obra. Ela também abre mercado para outras empresas. Cada projeto estimula a inserção internacional
indireta de 1.500 a 2.800 empresas, 80% das quais são micro, pequenas e médias empresas, segundo
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Nas exportações do setor, de acordo com David Barioni,
presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e
Investimentos (Apex), cerca de 2.500 a 2.800 empresas de
pequeno e médio porte dão suporte ao topo do serviço de
engenharia. Para Luiz Eduardo Barreto, presidente do Sebrae
Nacional, a pauta de exportação, atrelada a uma empresa
âncora de serviços de engenharia, é uma maneira de dar
sustentabilidade ao negócio do pequeno empresário.
"Exportar serviço de engenharia é a parte nobre do comércio
internacional. Poucos países podem fazêlo, o Brasil é um deles", disse Castro. Apenas 15 países
exportam regularmente esses serviços. Na América do Sul, só o Brasil. O país é também o único do
continente com uma indústria de máquinas e equipamentos para obras pesadas, como observou o
presidente da Volvo América Latina, Afrânio Chueire, que defende uma política de longo prazo, com
financiamento e garantia de crédito de risco para a exportação de engenharia. O Brasil disputa mercado
especialmente com a China, que oferece financiamento barato, a longo prazo e de valor elevado. "O
mercado externo é amplo. Para conquistálo precisamos agilizar decisões internas para superar
concorrência externa", disse Castro.
Contrapondose às críticas ao BNDES, o presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, disse que não há
nada de ilegal ou imoral nessas operações. Ao contrário, por não oferecer condições mais competitivas
de crédito, afirmou, o Brasil perde oportunidades de alavancar exportações de máquinas e outros
produtos. Entre 2007 e 2004, a Odebrecht recebeu R$ 8,23 bilhões do BNDES. No mesmo período,
Rodrigo Azeredo, do DPR: "Não há garantia
para investimentos no exterior"
segundo o executivo, instituições de outros países concederam à empresa créditos de US$ 20 bilhões.
Devido a problemas com taxas e condições do financiamento brasileiro, segundo o empresário, China e
Índia vão financiar a construção de um gasoduto de 42 quilômetros no sul do Peru, projeto na
modalidade parceria públicoprivada (PPP) desenvolvido pelo consórcio Gasoduto Sul Peruano,
formado por Odebrecht Latinvest (75%) e pela espanhola Enagás Internacional SLU (25%), com
investimentos de cerca de US$ 5 bilhões. Com isso, o material utilizado, principalmente tubos, orçados
em US$ 600 milhões, vão ser produzidos pelos dois países. "Imagine quantos negócios os US$ 20 bilhões
gerariam no Brasil, se fossem do BNDES", disse Odebrecht.
Segundo a AEB, o prazo médio entre contratação e desembolso
no Brasil é de 487 dias. Nos Estados Unidos, de acordo com o
ministro Rodrigo Azeredo, diretor do Departamento de
Promoção Comercial (DPR) do Ministério das Relações
Exteriores, o prazo é de 60 dias e na China, de 120 dias. Outra
diferença em relação aos concorrentes é que no Brasil não há
financiamento ou garantia para gastos internos, não há garantia
para investimentos no exterior e garantias incondicionais.
Para Castro, entre os desafios do país estão viabilizar
financiamentos para project finance no exterior, criar condições para atrair investimento privado para
obra pública no exterior com garantias incondicionais contra risco político e cambial e aumentar os
níveis da modalidade equalização de taxas de juros do Programa de Financiamento às Exportações
(Proex), em que o governo assume parte dos encargos nos financiamentos de instituições financeiras,
para tornar as taxas compatíveis com o mercado internacional. Segundo Azeredo, as taxas brasileiras
para esse tipo de operação são de 3,64% ao ano, enquanto a da OCDE para cinco anos, em 2015, é de
1,87%. "Para sermos minimamente competitivos, seria necessário uma equalização maior", afirmou.
"Cada US$ 1 para equalizar juros alavancou US$ 57 em exportações de alto valor agregado", disse Ralph
Lima Terra, vicepresidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib).
Terra também defendeu fortalecer as operações de financiamento do BNDES, o BNDESExim. Segundo
ele, os desembolsos, de US$ 4,8 bilhões, representaram 5,5% do total de desembolsos do BNDES em
2014, com inadimplência zero.
Na visão de Azeredo, os investimentos do BNDES são importantes também para maior inserção do Brasil
no mercado internacional. As exportações de serviços costumam ser apoiadas por Eximbanks porque são
operações de maior volume e maior risco, já que os mercados de maior crescimento são regiões
percebidas como de maior risco, como América Latina e África, observou Azeredo. O mercado mundial
de crédito oficial à exportação movimentou US$ 657 bilhões em 2013. No Brasil, atingiu U$ 2 bilhões,
0,3% do total.